INTRODUÇÃO

As escolas levaram muito tempo para decidirem-se pelo uso educacional dos computadores. Na carência de professores adequadamente preparados para esse uso, as escolas, de maneira geral, relegaram a segundo plano a discussão sobre essa conveniência. Outras, notadamente vinculadas às redes públicas de ensino, ainda que contando com computadores, nos chamados laboratórios de informática, e com acesso à internet, ainda não promovem uma efetiva incorporação curricular desse recurso. Pareciam fingir que computador não existis ou, se existia, não era para a escola.

Enquanto isso a sociedade avançava no uso dos computadores. Originalmente disponíveis apenas em locais de trabalho, desktops e notebooks chegaram às casas das famílias, inclusive as de menor faixa de renda por conta do Programa Um Computador para Todos, do Programa de Inclusão Digital do Governo Federal. O acesso à internet no Brasil vem crescendo, com o celular se consolidando como o principal aparelho para o acesso.

Desde que os computadores começaram a ser utilizados nas escolas, as posturas de professores e gestores sobre esse uso colocaram em um amplo espectro. De um lado, apareceram os empolgados com os potenciais dessa utilização, vendo no computador um agente responsável pela melhoria da educação. No outro extremo estavam aqueles que se opunham a esse uso, temendo implicações de várias ordens. Esses últimos seriam, na Era da Informação ou Era do Conhecimento, na Sociedade em Rede, os novos ludditas.

No Brasil, sob a responsabilidade da Secretaria de Educação a Distância do MEC, que foi extinta no início de 2011, teve início em 2010 um projeto audacioso para verificar possibilidades e limites do uso de tecnologia móvel na escola, com o laptop educacional. Essa proposta trouxe um novo paradigma: ao invés do laboratório de informática, tradicional nas escolas, o que se pretendia no Projeto Um Computador por Aluno, UCA, encerrado em 2013, era que cada aluno tivesse o seu laptop na sala de aula, com acesso wireless à internet banda larga. Assim, o computador, enquanto tecnologia móvel, estaria disponível para alunos e professores no exato momento em que fosse necessário nos processos de aprendizagem, de forma semelhante à disponibilidade de um livro ou caderno.

Entretanto novas tecnologias sempre chegam e impactam comportamentos na sociedade. Com as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) não poderia ter sido diferente. A utilização de celulares e, em especial, dos smartphones ampliou-se de forma acelerada. Olhamos ao redor de nós e encontraremos ao menos uma pessoa com os olhos voltados para uma pequena tela. Algumas parecem incapazes de desligarem-se do aparelho. A tela parece se tornar o seu universo de vida, seu mundo.

Voltemos os olhos para escola e veremos que os dispositivos móveis, principalmente os celulares, estão nas mãos da maioria dos professores e alunos. E seria natural esperar que os smartphones viessem a ocupar espaços nas escolas.

Se houve um tempo em que os alunos vinham para a escola para ter contato com as tecnologias digitais nos laboratórios de informática, hoje eles as trazem de casa consigo. Trazem o equipamento e, ainda, a conexão à internet. Ao trazerem, para a escola, os smartphones que podem ser utilizados como instrumemnto para a aprendizagem, os alunos ajudam a superar a deficiência da infraestrutura de acesso à internet especialmente nas escolas públicas.

Pensar nos celulares, especialmente os smartphones, como um dispositivo que possa ser utilizado na formação dos estudantes seria uma natural decorrência da sua posse e do seu uso cada vez mais ampliado. Os dispositivos móveis, com acesso wireless ou 3G/4G à internet, com diversos apps ali instalados, são razão para se pensar numa quarta geração de currículo quanto se trata da incorporação das TDIC na escola. Seria o Currículo 4G ou App Currículo.

A oportunidade do uso de dispositivos como celulares e tablets na escola levou a UNESCO, a agência da ONU para educação, ciência e cultura, a propor "Diretrizes de políticas para a aprendizagem móvel".

Entretanto, a presença dos celulares na escola ainda é vista por muitos como um problema. Afinal, na sala de aula não raro se tornariam instrumentos para a dispersão; alunos ligados nos celulares desligam-se da aulas, pensam muitos professores. Culpa do celular ou culpa da aula? Eis a questão!

Um estudo divulgado em julho de 2015, realizado pela London School of Economics, mostrou que alunos de escolas da Inglaterra que baniram os smartphones melhoraram em até 14% suas notas em exames de avaliação nacional. Entretanto, os resultados do estudo não deixaram de criar controvérsias.

Quando indagados sobre a possibilidade de uso dos celulares na escola, os professores revelam entendimentos bastante diversos. A questão do uso - ou da dispersão na aula pelo uso - do celular na escola é polêmica. E chega a tal ponto que existem legislações estaduais em plena vigência que vedam o uso de celulares e outros dispositivos digitais nas escolas. Mais recentemente em alguns estados, como é o caso de Minas Gerais [Lei 23.013/2018] e São Paulo, houve avanços nessa questão, com a aprovação de leis que permitem o uso do celular em sala de aula desde que em atividades com fins pedagógicos. Essa condição de uso pedagógico seria definida pelos professores. 

Entretanto, por outro lado, em 2018 a França proibiu o uso de celulares em escolas que acolhem crianças e adolescentes até 15 anos de idade.

Com legislação ou sem, a questão do uso dos smartphones precisa estar no centro dos debates sobre a educação na contemporaneidade. Afinal na escola lidamos com crianças e jovens do Século XXI, nascidos em uma sociedade absolutamente imersa em tecnologias digitais. Conforme artigo publicado no site do Ministério Público do Paraná, a escola brasileira precisaria, com urgência, revaliar os "métodos dos quais se vale para limitar e conscientizar acerca do uso adequado da tecnologia por parte de alunos e educadores";

Em viagens aéreas, há algum tempo atrás, o uso do celular era absolutamente proibido. Era necessário evitar emissão de sinais que pudessem interferir em equipamentos do avião, colocando em risco a segurança de passageiros e tripulantes. Mas a tecnologia evoluiu e ajudou a superar esse problema. Hoje em dia, os passageiros são solicitados a colocar os seus celulares no Modo Avião. Podem, assim, continuar utilizando seus dispositivos móveis durante o voo, ainda que com alguma limitação, sem causar problemas para a segurança.

Tendo-se como referência o Modo Avião, não seria o caso de criarmos, para os celulares na escola, o Modo Educação?  

Nesse “modo", criado com base em um combinado do professor comseus alunos, com a utilização limitada a aplicativos que tivessem sentido no processo educacional, o celular poderia se tornar um dispositivo de uso corriqueiro na escola, deixando no passado o papel de perturbador do ambiente de aprendizagem que alguns professores denunciam.

Por outro lado, a pandemia da Covid-19 em 2020 provocou uma situação no mínimo curiosa. As escolas, mesmo aquelas que desconsideravam a possibilidade do uso dos smartphones nas atividades para a aprendizagem, tiveram que buscar nesse dispositivo o recurso para o ensino remoto quando foram obrigadas a fechar. Em uma ironia, solicitar aos alunos, em casa, o uso de smartphones e tablets, bem como de computadores, foi a estratégia que restou para que as aulas não fossem totalmente interrompidas na duração do distanciamento social ampliado. Um vírus, um ser minúsculo, forçou a escola a adotar as tecnologias digitais.

AVANÇA