Conclusão

 

Como é possível constatar, a questão do uso do uso dos celulares na escolas da Educação Básica ainda provoca polêmicas. Afinal, até mesmo o uso de computadores foi alvo de muitas polêmicas quando se começou, ainda nos anos 1980, a considerar a possibilidade de sua utilização como um um recurso na educação escolar.

 

Da mesma forma que antes, ainda temos, nas escolas, tecnófilos ou "tecno-deslumbrados" que acreditam que a solução para os problemas da qualidade da educação passa pela adoção de máquinas digitais. Para eles, esses recursos são indispensáveis.

Mas também ali na escola encontramos os céticos, os tecnófobos ou "tecno-descrentes".

Além deles, também estão na escola - e não sem razão, os "São Tomé", querendo ver para crer.

E, claro, persistem - e persistirão - aqueles que fingem que nada têm a ver com essa questão de tecnologias na escola. Para eles, a sua antiga aula é o que importa, é o que basta para formar as novas gerações, crianças e adolescentes ainda que nascidos no século XXI, ainda que os jovens do Terceiro Milênio.

As tecnologias digitais chegaram à escola, ainda que pouco ou nada efetivamente utilizadas para a aprendizagem.

A internet se oferece como uma imensa fonte de informações, certamente de toda ordem. Entretanto, apesar de 99% das escolas públicas brasileiras contarem com computadores e quase 80% das escolas urbanas disporem de acesso à internet, apenas 7% dos alunos dizem fazer uso da rede nas unidades de ensinos, segundo um estudo sobre aprendizagem móvel no Brasil, promovido pelo Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Columbia, New York.

Independentemente disso, o celular chega à escola. Sem uma utilização com finalidade educativa, perturba o ambiente de aprendizagem, não deixa que o professor dê, em uma confortável "calmaria" na sala de aula, a velha aula expositiva.

Entretanto, os celulares não são a causa do desinteresse pela aula. São, na verdade, um sinal dele, um sintoma do "esclerosamento" do modelo de aula, de escola.

Sempre houve desinteressados na sala de aula, muito antes do celulares chegarem à escola. Então, as formas dos alunos "desligarem-se" da aula eram outras. Hoje, eles se ligam em redes sociais ou em jogos, através de celulares, enquanto se desligam do professor, desconectam-se da aula na qual não encontram significado.

Deixando de olhar a questão sob essa perspectiva, as escolas proíbem os celulares. Ao mesmo tempo, legisladores buscam criar instrumentos normativos que darão à escola a segurança para banirem do seu espaço os celulares.

Mas o fato é que o celular está nas mãos dos alunos, em seus bolsos. São instrumentos com os quais se comunicam, através dos quais buscam informações. E não podemos nos esquecer que comunicação e informação são absolutamehte indispensáveis na escola, elementos para a construção do conhecimento.

Podemos perceber um uso ampliado das novas tecnologias da informação nas escolas, até mesmo no Brasil. Hoje, aqui, o cenário já é bem diferente daquele de dez ou quinze anos atrás. Por tudo isso é importante que a educação para a Era da Informação e a incorporação curricular das tecnologias digitais esteja, junto com outros aspectos importantes, na pauta central dos debates das questões educacionais mais relevantes na contemporaneidade.

Não podemos deixar de considerar a necessidade de que as escolas ofereçam uma boa infraestrutura de conexão oferecida a professores e estudantes. Na verdade, esse é um problema ainda sério nas escolas públicas, tendo provocado inclusive uma campanha pela melhoria da contectividade, na qual as pessoas foram solicitadas a enviar uma mensagem para a presidência da República, pedindo que até 2016 todas as escolas do país tenham conexão à internet de 10 MB. 2016 já se foi e não vimos mudanças nesse cenário, ainda que o Ministro da Educação tenha, em 2015, se comprometido a um empenho junto à ANATEL para que a legislação que regulamenta o Programa Banda Larga nas Escolas (PBLE) fosse cumprida. Como afirmou o então Ministro Mercadante, que já chegou a dizer que temos uma banda lerda, "a educação precisa de banda larga, precisa de acesso à internet e precisa de tecnologia de informação".

As escolas precisam envolver todos seus atores - professores, gestores, alunos, pais e responsáveis - na discussão aberta de um novo projeto pedagógico, que também inclua as  tecnologias digitais da informação e da comunicação. Incluir tais tecnologias não significa abrir mão de outras, mas agregar novos recursos, criando novas possibilidades.

O uso do celular - e de outros dispositivos móveis - como um instrumento para a aprendizagem dependerá, evidentemente, de professores preparados para um novo fazer pedagógico. Com um bom planejamento, essas tecnologias terão importante papel enquanto recurso para a colaboração, a criatividade. Estratégias bem planejadas, com foco na aprendizagem, evitarão que os estudante vivam uma Era da Distração, ao invés da Era do Conhecimento.

Com celulares, smartphones e tablets prontos para serem usados na educação surge um novo desafio para uma outra escola: as licenciaturas precisam incorporar tais tecnologias, ainda que poucou ou nada utilizem o computador na formação dos professores.

A matriz dos professores, ou seja, a licenciatura, precisa formá-los utilizando as tecnologias digitais e formá-los para que as utilizem com seus futuros alunos.

Cabe à escola que forma professores no século XXI trazer as tecnologias digitais de informação e comunicação como recursos na construção do conhecimento por parte de seu estudantes. As licenciaturas estão desfiadas a fazer com que seus alunos possam construir competências e habilidades para usarem essas tecnologias com seus alunos quando futuramente estiverem exercendo a função para a qual se prepararam. E entre tais tecnologais devem estar os dispositivos móveis.

Há de se observar que, conforme afirma Carlos Seabra, a única forma destes dispositivos não serem usados para distrair os alunos da aula é com "propostas e estratégias pedagógicas para sua utilização".

Os desafios estão postos. Mas, como disse Maquiável, "onde há uma vontade forte, não pode haver grandes dificuldades".

 

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