Carmen Guerreiro
A
aparente inimizade entre a escola e a internet
foi construída basicamente porque a rede mundial
de computadores não é vista como fonte confiável
de informações, além de facilitar a prática do
plágio. A vilã de hoje, no entanto, pode ser a
aliada de amanhã. É o que propõe o
norte-americano Bernie Dodge, professor da
Universidade Estadual de San Diego (Califórnia,
EUA), criador de um novo conceito de
aprendizado: a WebQuest. Traduzido ao pé
da letra, o termo significa "Busca na Web". "É
uma forma de resolver problemas criativamente e
ensinar os alunos a pensar", explica
Bernie.
A
WebQuest é uma página na internet, feita
pelo professor, que apresenta aos alunos uma
tarefa a ser cumprida com base no conteúdo
trabalhado durante as aulas. O objetivo é
aproximá-lo da realidade dos estudantes. Eles
desenvolvem pesquisas sobre determinado assunto
em web sites selecionados pelo professor.
A estrutura de uma WebQuest divide-se em
(1) introdução, (2) tarefa, (3) processo, (4)
recursos e (5) avaliação.
No
primeiro momento, o professor contextualiza seus
alunos em relação ao tema. Em seguida, apresenta
a proposta do trabalho e seus objetivos. Depois,
explica quais serão as etapas. Os recursos
consistem no link que o professor monta
com a relação de endereços confiáveis na rede,
que os alunos usarão como fonte. Por fim, são
esclarecido os critérios de avaliação da
tarefa.
Durante
palestra ministrada recentemente em São Paulo
(SP), Bernie pediu que os professores da platéia
elaborassem uma proposta de WebQuest
sobre índios. O desafio era descobrir uma
forma de propor aos alunos o estudo da cultura
indígena a partir de cinco tribos selecionadas.
Surgiram diversas propostas, como a criação de
propagandas e publicações jornalísticas para os
índios (para isso, os alunos precisariam
conhecer suas características e necessidades), e
o projeto de uma lanchonete numa aldeia
(estudantes teriam de pesquisar o que eles
comem, suas músicas e construções, por
exemplo).
A
inquietação de Bernie em relação ao papel do
educador na atualidade foi o que motivou a
criação da WebQuest. Segundo ele, queria
encontrar uma forma de transformar os alunos
durante o processo pedagógico, de modo que o
professor não fosse mais a figura transmissora
de conhecimento na sala de aula. "O objetivo dos
professores não é a transmissão, é a
transformação, e o papel deles é reunir fontes
de conhecimento para os alunos e ajudá-los a
usá-las", explica. "Em uma sociedade que muda e
fica mais complexa a todo tempo, não podemos
depender de memorizar as coisas. Precisamos
aprender sozinhos e olhar para tudo com
ceticismo."
Em
1995, Bernie criou um curso com o objetivo de
ensinar professores a usar a internet de tal
modo que seus alunos se envolvessem em tarefas
estimulantes e a aposentar, assim, os "velhos
modos de pensar". A partir do novo conceito, o
sucesso espalhou-se pelo mundo: pesquisa sobre o
termo WebQuest no mecanismo de busca
Google apontou, no início de agosto, 1,1
milhão de referências na rede. Bernie observa,
porém, que a maioria dessas páginas é de
WebExercises ("Exercícios da Web"), ou
seja, os alunos não vão passar por uma
transformação, portanto "não
aprenderão".
Outra
função da WebQuest seria aproximar o
conteúdo ensinado na escola da realidade. Bernie
também criou os conceitos de "verbos da vida" e
"verbos da sala de aula", dois grupos de ações
que só encontram uma intersecção no grupo
"verbos da WebQuest" (leia quadro na
página XXX). Para Jarbas Novelino Barato,
responsável pelo projeto WebQuest: Aprendendo
na Internet, da Escola do Futuro da
Universidade de São Paulo, e professor da
Universidade São Judas Tadeu e das Faculdades
São Luís, "a escola repassa conteúdos de maneira
organizada e didática, mas esses conteúdos não
têm essa cara fora da escola". Jarbas acredita
que os livros didáticos não são peças
autênticas, pois a informação deglutida perde
autenticidade. "O que se coloca é que a escola
acaba oferecendo um conteúdo artificial e, em
certo sentido, a internet é autêntica, pois tem
artigos, sites atuais, conteúdos que não
foram feitos para escolas",
argumenta.
A
professora Vera Silva dos Santos, coordenadora
de formação de docentes de idiomas do Senac-SP,
experimentou fazer duas WebQuests, uma
para seus alunos do curso avançado de inglês e
outra em francês, em conjunto com a professora
Erica Marques de Souza. "A WebQuest
transcende a internet, e a rede é apenas uma
referência", afirma. Vera acredita que uma
WebQuest pode indicar fontes diversas,
como jornais, revistas, livros e, é claro, a
internet, para realizar a tarefa, mas concorda
com Jarbas. "A web tem a grande vantagem
de manter conteúdos mais atualizados, ao
contrário dos livros", diz.
Leia mais sobre as dificuldades de
implantar WebQuest, a diferença da
ferramenta com a internet e os livros e muito
mais na edição impressa da revista
Educação
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